O empenho no equilíbrio das contas públicas e a nova rodada de concessões para o setor privado têm despertado o interesse de investidores estrangeiros no Brasil. Aliado a essas iniciativas, ativos no setor de infraestrutura, como os de companhias envolvidas na Lava Jato, por exemplo, estão sendo vendidos a preços convidativos, alavancando a participação de multinacionais.
Neste ano, investidores estrangeiros e novos participantes irão buscar oportunidades locais, impulsionados também pelo tamanho do mercado consumidor brasileiro e a possibilidade de expansão pela América do Sul.
Nesse contexto, empresas que comprovarem possuir processos eficientes e condições de minimizar riscos, como fraudes financeiras e envolvimento com corrupção, ganham importante vantagem competitiva.
Seja para que vendedores tornem seus ativos mais atrativos ou para que compradores tirem deles os melhores dividendos, a experiência mostra que apurações independentes são essenciais para a tomada de decisão dos investidores e a atuação assertiva sobre potenciais riscos reputacionais, financeiros e legais.
No entanto, quem já vivenciou um processo de aquisição sabe: o prazo para as due diligences é curto. Investidores precisam continuar com a avaliação da empresa após o fechamento do acordo. É neste momento que podem ser evidenciadas relações questionáveis com fornecedores/clientes, conflitos de interesse e manipulações de resultados, como vendas superestimadas, gastos subestimados ou alta alavancagem.
Essa “faxina” durante os seis primeiros meses após a aquisição permite a revisão detalhada da integridade financeira da companhia adquirida e a investigação de potenciais fraudes. Abaixo, segue uma lista de boas práticas aconselháveis nesse momento:
- Criterioso levantamento das vendas e contas a receber. Isso inclui reunir-se com os principais clientes – em particular com os 20% que respondem pela maior porção das receitas (80%) –, de modo a entender seus padrões de compra, assim como o histórico de pagamentos;
- Avaliação dos fornecedores, descobrindo quem são, como estão estruturados, e conferindo um olhar especial àqueles que têm mais de 20% de seus negócios com a companhia;
- Revisão da operação com terceiros, examinando os elos entre gerentes-chave e os proprietários de clientes/fornecedores-chave;
- Verificação do histórico pessoal e profissional, associações corporativas, parcerias e eventuais problemas com a justiça de gerentes de nível médio que ocupem funções em departamentos importantes e suscetíveis a fraudes, como TI, finanças, compras, estoque e segurança;
- Identificação e implementação de controles internos apropriados;
- Estabelecimento de uma dinâmica regular de relatórios (semanal/mensal) e de prestações de contas excepcionais que identifiquem a ocorrência de eventos incomuns, mas representativos. Não se deve confiar apenas em resultados anuais – eles são de grau muito elevado e demoram a chegar;
- Posicionamento de gestores de confiança e competência em posições-chave (especialmente na de CFO), monitorando-os com proximidade.
É essencial que esse trabalho inclua investigadores financeiros, que acrescentam uma perspectiva diferente da oferecida por um auditor contábil ou um especialista em compliance. Ao analisar os números, esse especialista sabe identificar como os fraudadores podem se aproveitar das fraquezas do sistema e como manipular operações.
Uma vez que o sinal de alerta for identificado (veja possibilidades no quadro referencial abaixo), é importante para a companhia agir e determinar seus riscos. Caso se trate de uma questão de controles, a melhoria de políticas e protocolos deve ser imediatamente aplicada. Porém, se a apuração indicar uma má-conduta, irregularidade ou corrupção, uma abrangente investigação forense precisa ser conduzida.
Essa imersão investigativa pode levar a resultados como ajustes contábeis dos ativos da companhia, litígios para reaver os bens desviados ou, mesmo, revisão do valor de aquisição.
Todo esse processo termina por ser desgastante e exige coragem e disposição da parte de gestores. O lado positivo é que, ao buscar diagnosticar deficiências em controles e identificar fraquezas e riscos à sustentabilidade do negócio, deixa-se um legado para a melhoria da organização, que, por sua vez, sai mais forte e competitiva.
Sinais De Alerta Quanto À Propina E Corrupção
- Sobrepreços e alterações em contratos
- Mudanças em pedidos – maior/menor trabalho, ajuste de preços e de qualidade
- Quantidades inadequadas de produtos ou serviços ou transportes não realizados
- Produtos e serviços entregues com qualidade inferior
- Diferenças relevantes nos cronogramas financeiros vs físicos
Sinais De Alerta Quanto Ao Reporte Financeiro E Gestão
- Distorção de receitas e despesas – efeitos no preço de venda
- Distorção no valor de ativos
- Distorção em patrimônio e financiamentos
- Desconsideração recente a órgão regulatório
- Decisões dominadas por um indivíduo ou grupo na gestão precedente
- Falta ou fraqueza de compliance, código de conduta e protocolos
- Falta ou fraqueza de ambiente de controle interno