Ao olharmos para 2022, a economia global enfrentou uma conjuntura crítica com várias crises paralelas e muitas vezes relacionadas. A policrise sobre nós incluiu o legado do COVID-19, guerra na Europa, enorme choque de energia, inflação significativa, ciclo de aperto monetário global, dólar americano forte, crescimento mais lento da história recente da China, endividamento global e tensões crescentes entre os EUA e a China, para citar alguns.
Entre as economias desenvolvidas é provável que os EUA cresçam de forma mais intensa em 2023. A confiança do consumidor caiu significativamente ao longo de 2022, pois a inflação superou o crescimento dos salários, afetando os padrões de vida, mas o consumo permaneceu robusto, com vendas no varejo surpreendendo positivamente.
A Europa foi afetada desproporcionalmente pela guerra da Rússia na Ucrânia, com os custos de energia aumentando significativamente e a alta da inflação provocando uma crise de custo de vida. O próximo inverno é muito mais incerto, pois a Europa terá que reabastecer seu armazenamento sem acesso à energia russa e com a concorrência da China pelo gás natural liquefeito (GNL).
Esperamos que os mercados emergentes continuem a crescer, impulsionando o crescimento global muito baixo, de cerca de 2%. Após crescimento de cerca de 3% em 2022, esperamos que a China acelere moderadamente para cerca de 5% de crescimento em 2023.
O Brasil esteve sujeito em 2022 as mesmas intempéries que as economias desenvolvidas, resultado principalmente da falta de previsibilidade, estabilidade e confiança nos investimentos. Porém, enquanto se espera que potencialmente os países desenvolvidos enfrentem um período de recessão (negócios com tendências anticíclicas, reestruturações e potencialmente falência de empresas), economias emergentes e em recuperação como Brasil, poderão apresentar um crescimento oportunístico maior que nos últimos anos.
A transição para energia verde/ limpa, ainda custosa quando precisa ser implementada de forma tempestiva, tem recebido impulso extra com apoio de diversos governos. ESG terá ampliação de ações, mas também de regulação – que busca padronizações globais de mensuração de esforços e aplicação – bem como, de penalidades a greenwashing. As tensões entre Estados Unidos e China continuarão e o Brasil, aparte a estes conflitos, pode se beneficiar enquanto destino de investimentos.
Um dos cães que não latiram desde o início da pandemia é uma crise de dívida soberana de mercado emergente (ME), mas esperamos que ela surja em 2023. Várias economias de ME foram superalavancadas antes da pandemia e tiveram que contrair empréstimos significativos, para financiar suas respostas pandêmicas.
Temos poucas dúvidas de que a demanda por apoio do FMI e do BM aumentará em 2023. A principal questão é se haverá uma década perdida para os mercados emergentes, como a crise da dívida latino-americana dos anos 1980.
A trajetória atual da taxa do Fed, provavelmente levará a uma recessão nos EUA no segundo semestre do próximo ano. Com os bancos centrais subindo as taxas e encolhendo seus balanços e muitos investidores mudando para dinheiro, a liquidez foi retirada em um ritmo rápido em 2022. Isso deixou até mesmo a maior e mais líquida classe de ativos do mundo – o Tesouro dos EUA – superficial e volátil. Os títulos do Tesouro dos EUA são a base para a taxa livre de risco, o alicerce para a precificação de muitos títulos globalmente.
O presidente da China, após anos de tensões comerciais com o Ocidente, continuou a seguir uma política de transferências forçadas de tecnologia e subsídios governamentais para setores estrategicamente importantes. Em resposta, o governo Biden tornou-se cada vez mais agressivo em seus esforços para conter a China e impedir seu progresso tecnológico e militar com a Lei CHIPS e os controles de exportação de tecnologia. Mas imediatamente, isso aumentará as tensões entre a China e Taiwan - um importante aliado estratégico dos EUA - e, talvez mais do que qualquer outra parte do mundo, um país do qual o Ocidente e a China dependem inteiramente para a próxima geração de semicondutores sofisticados.
Ao olharmos para o impacto potencial da guerra da Rússia contra a Ucrânia em 2023, recomendamos pensar em desenvolvimentos em três áreas: a guerra no terreno na Ucrânia, os possíveis cenários de escalada que não vimos em 2022, mas não podem ser descartados para 2023 e as ramificações da guerra para aqueles fora da Rússia e da Ucrânia.
O resto do mundo também continuará a ser afetado pelos efeitos da guerra. A Europa provavelmente enfrentará um inverno difícil com preços de energia muito altos, embora talvez um pouco amortecidos, se as temperaturas mais altas do que o esperado continuarem durante o inverno e, a partir de 5 de dezembro, pela imposição de um teto de US$ 60/barril para o petróleo russo.
Nos Estados Unidos, é provável que o apoio à Ucrânia esteja menos ameaçado do que se a “onda vermelha” tivesse se materializado e os republicanos tivessem assumido o controle do Senado, mas o controle republicano da Câmara, pode tornar mais difícil para o presidente Biden garantir financiamento contínuo para armas para a Ucrânia.
Enquanto governos e empresas de todo o mundo se esforçam para voltar à vida como era antes da pandemia de COVID-19, eles precisam estar preparados em 2023 para uma nova “era de pandemias”. Múltiplas forças estão conspirando juntas para aumentar a frequência com que novas doenças surgem e depois se espalham pelo mundo: desmatamento, pecuária intensiva, urbanização, migração e viagens. A mudança climática está ampliando todas essas forças e adicionando uma nova ameaça – temperaturas mais altas – tornando as doenças “tropicais” agora rotineiras em países não tropicais.
O cenário regulatório ambiental, social e de governança (ESG) em evolução e a incorporação de fatores ESG nas estruturas de monitoramento e relatórios das empresas não mostram sinais de desaceleração em 2023. Os investidores continuam exigindo maior transparência e consistência ao relatar fatores ESG e estão examinando cada vez mais a integridade dos dados subjacentes.
O Brasil também está focando na transparência e consistência de divulgações ESG, especialmente sobre assuntos climáticos. A partir de janeiro 2023, por exemplo, as empresas listadas precisarão reportar várias métricas e/ou fatores ESG ou justificar caso não o façam. Essas informações incluem suas práticas e/ou métricas associadas com a matriz de materialidade; as metodologias ou padrões ESG seguidos nos relatórios e/ou documentos relacionados; se as informações estão auditadas ou não; se adotaram objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas e/ou as recomendações da Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas às Mudanças Climáticas (TCFD); se fizeram inventários e/ou divulgações sobre a emissão de gases de efeito estufa, bem como vários outros detalhes sobre seus programas e práticas ESG. A tendencia no Brasil é mais fiscalização das metodologias e premissas nos cálculos para que os investidores consigam melhor analisar e comparar fatores ESG.
Após uma regulamentação muito agressiva e uma agenda regulatória executada em 2022, espera-se que a SEC reoriente suas prioridades para abordar as realidades da mudança no controle da Câmara dos EUA, possíveis tensões recessivas nos mercados financeiros, preocupações cada vez maiores com fraude e o efeito de contágio da volatilidade e liquidez no mercado de criptomoedas.
Aconselhamos que as empresas continuem a aprimorar sua governança, supervisão, políticas e procedimentos de conformidade e treinamento com uma abordagem baseada em risco para lidar com exposições regulatórias.
Não deve haver dúvida de que as ameaças cibernéticas continuarão a evoluir e permanecerão um perigo constante para todas as organizações dos setores público e privado. A previsão é de que a velocidade e a sofisticação dos ataques cibernéticos em geral continuem acelerando. Em particular, estamos vendo a evolução dos ataques de ransomware. Anteriormente, os invasores simplesmente criptografavam dados, agora eles geralmente roubam dados antes da criptografia, o que lhes permite ameaçar publicar os dados, conhecido como dupla extorsão.
O ano de 2023 promete ser uma jornada mais difícil para a maioria dos consumidores, empresas e investidores em todo o mundo, mas sempre há oportunidades na volatilidade.